Lívia Francez
Familiares de vítimas de crimes sem solução vão se reunir em São Paulo, nesta terça-feira (14/09/2010), para uma entrevista transmitida pela internet sobre a impunidade nos casos de mortes dos entes queridos. Entre entrevistados está Sandra Cassaro, a filha do ex-prefeito de São Gabriel da Palha Anastácio Cassaro.
O pai de Sandra foi assassinado em abril de 1986 e o julgamento dos acusados, que seria realizado em agosto ou setembro deste ano, ainda não aconteceu.
Na jornada em busca de justiça, Sandra Cassaro tornou-se aliada de outras famílias que também buscam a solução para crimes envolvendo os familiares. O pai da jovem Gabriela Prado Maia Ribeiro, Carlos Santiago, vítima de bala perdida em um metrô no Rio de Janeiro, em 2003, e membro do Movimento Gabriela Sou da Paz, classifica como estarrecedor o crime cometido contra o ex-prefeito, bem como o fato de ainda não haver nenhuma resposta da Justiça sobre a prisão dos culpados.
Sandra foi para São Paulo com o intuito de dar a entrevista sobre o caso de seu pai a convite da família da advogada Mércia Nakashima, brutalmente assassinada em maio deste ano. O irmão da advogada, Márcio Nakashima, se diz indignado com a morosidade dos processos que no seu decorrer causam inúmeras injustiças com as vítimas e seus familiares. A filha do ex-prefeito formalizou nova denúncia sobre o caso no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), contendo nomes de pessoas que estariam atrapalhando o andamento do processo.
O processo se arrasta há anos e a última testemunha do caso só foi ouvida em 1998. O crime foi encomendado pelo que ficou conhecido por um Consórcio do Crime, com interesses políticos na morte do ex-prefeito. Os executores do assassinato também foram vítimas de homicídio anos depois do crime.
A denúncia, enviada ao Ministério Público Estadual (MPES) e acatada pelo juiz Ronaldo Gonçalves de Souza, dá conta que a morte do prefeito foi arquitetada pelo filho do vice-prefeito do município na época, Fernando Lourenço de Martins, pelo médico Edvaldo Lopes de Vargas, Jorge Antônio Costa, Carlos Smith Frota e Luiz Carlos Darós que foram indiciados e tiveram prisão decretada no dia 15 de abril de 1986, 12 dias após o crime e ficaram presos até 18 de julho do mesmo ano quando passaram a responder o processo em liberdade. Em dezembro de 1986 o vice-prefeito, Firminode Martins também foi incriminado e denunciado como um dos mandantes do crime. Os executores, José Sasso e Jorge Bilce, foram vítimas de envenenamento (o primeiro) e emboscada (o segundo) em Rondônia, anos depois do crime.
O crime também foi qualificado como vingança por motivo torpe. Cassaro era conhecido por sua rigidez e por não gostar de negociatas que afrontavam os direitos dos munícipes, contrariando o grupo, que se reuniu para tramar sua morte e entregar o cargo ao vice-prefeito Firmino de Martins, pai de Fernando de Martins. O ex-prefeito havia sido avisado que estava marcado para morrer pelo então vereador Adalton Martinelli, que denunciou ao secretário de Segurança Pública da época, Dirceu Cardoso, o envolvimento de Jorge da Costa, subdelegado de São Gabriel da Palha, na trama.
Ele havia sido exonerado e tinha um inquérito aberto por Cassaro e, por vingança, se associou aos outros autores e ainda foi responsável por contatar e intermediar a contratação de Sasso para executar o crime. Jorge da Costa foi preso após o assassinato do prefeito e entregou os demais envolvidos na trama. O grupo confessou, em princípio, o plano, mas negou ter dado prosseguimento à idéia de matar Cassaro. Tempos depois, por conta de habeas-corpus, Jorge foi colocado em liberdade.
Fonte: Século Diário
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